quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Os Livros Ardem Mal

Os Livros Ardem Mal é um blogue sobre actualidade literária, a pretexto de livros recentemente publicados e discutidos mensalmente no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra. Os participantes fixos (o painel residente) nesse debate mensal, que conta sempre com a presença de um convidado, são António Apolinário Lourenço, Luís Quintais, Osvaldo Manuel Silvestre e Rui Bebiano. Outros participantes incluem Ana Bela Almeida, Manuel Portela e Miguel Cardina.
Acerca do romance Doctor Glas, do sueco Hjalmar Söderberg, publicado em 1905 e traduzido recentemente para português, escreve Ana Bela Almeida que o livro"causou escândalo por apresentar um médico que defende a eutanásia e o aborto, práticas que apenas não exerce por hipocrisia, mas a questão da morte neste romance estende-se bem para além disto. O Doutor Glas nunca cederá às inúmeras súplicas de pacientes grávidas contra vontade; nem se pode chamar “eutanásia” ao que acontece. Quando Helga Gregorius o procura no consultório para que a ajude a livrar-se das atenções sexuais do clérigo Gregorius, o marido indesejado, e poder assim viver livremente o romance com o seu jovem amante, está longe de imaginar o alcance deste pedido. Está longe de saber que, para este homem solitário e virgem, que se define como um observador da vida dos outros, este será um chamamento à acção e, por assim dizer, à vida. Assistimos ao seu sofrido debate interior, e vemos como num processo próximo do de Raskolnikov de Dostoievski, surgem os argumentos contra e a favor do assassinato, e como toda a lógica o decide a agir. A defesa do amor dos dois jovens constitui, para o Doutor Glas, uma questão de vida ou morte. No entanto, o Doutor Glas, na sua inexperiência, não se apercebe da sua própria distância do sol. Não sabe que com a morte do clérigo, o amante de Helga rapidamente se desembaraçará desta para casar com outra, e que Helga acabará grávida, abandonada, sem nunca mais lhe dirigir palavra. O seu é um erro de cálculo que surge da inexperiência do amor, da distância que o leva a pensar o amor como uma questão de vida ou morte. "

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