quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

E-Dicionário de Termos Literários

Um dicionário em linha de termos literários pode ser encontrado aqui. Este projecto de investigação é produzido por uma equipa de mais de cem professores e investigadores portugueses e brasileiros, foi iniciado em 1997 e evoluiu, a partir de 2005, para esta edição electrónica, ainda em construção. 
Na letra M, na entrada "memória", podemos ler que, quando aplicado no plural (memórias), o termo "relaciona-se muitas vezes com a autobiografia, o diário e com a literatura confessional, em geral. Nestes casos, a narrativa é escrita na primeira pessoa e o relato das experiências pessoais funciona frequentemente como auto-revelação, na sequência do humanismo antropocêntrico do período renascentista que, encorajando a análise e a exploração da subjectividade, influenciou a produção de autobiografias. As memórias constituem-se igualmente como artifícios ficcionais, sendo o autor uma personagem de um universo essencialmente fictício. O romance Robinson Crusoe (1719), de Daniel Defoe, é apontado como percursor deste artifício, pelo qual a autobiografia se torna ficção. O mesmo se poderá aplicar a Les Confessions (1781) de Rousseau, obra inserida no vasto género da literatura confessional que se caracteriza pelos relatos pessoais e subjectivos das experiências, crenças, sentimentos, ideias e estados de espírito, não deixando estes de se revestir de carácter ficcional. Assim, o romance confessional sugere um tipo de autobiografia ficcional, onde o autor poderá assumir uma personalidade que não é a sua. É o caso de La Chute (1956) de Camus."

Os Livros Ardem Mal

Os Livros Ardem Mal é um blogue sobre actualidade literária, a pretexto de livros recentemente publicados e discutidos mensalmente no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra. Os participantes fixos (o painel residente) nesse debate mensal, que conta sempre com a presença de um convidado, são António Apolinário Lourenço, Luís Quintais, Osvaldo Manuel Silvestre e Rui Bebiano. Outros participantes incluem Ana Bela Almeida, Manuel Portela e Miguel Cardina.
Acerca do romance Doctor Glas, do sueco Hjalmar Söderberg, publicado em 1905 e traduzido recentemente para português, escreve Ana Bela Almeida que o livro"causou escândalo por apresentar um médico que defende a eutanásia e o aborto, práticas que apenas não exerce por hipocrisia, mas a questão da morte neste romance estende-se bem para além disto. O Doutor Glas nunca cederá às inúmeras súplicas de pacientes grávidas contra vontade; nem se pode chamar “eutanásia” ao que acontece. Quando Helga Gregorius o procura no consultório para que a ajude a livrar-se das atenções sexuais do clérigo Gregorius, o marido indesejado, e poder assim viver livremente o romance com o seu jovem amante, está longe de imaginar o alcance deste pedido. Está longe de saber que, para este homem solitário e virgem, que se define como um observador da vida dos outros, este será um chamamento à acção e, por assim dizer, à vida. Assistimos ao seu sofrido debate interior, e vemos como num processo próximo do de Raskolnikov de Dostoievski, surgem os argumentos contra e a favor do assassinato, e como toda a lógica o decide a agir. A defesa do amor dos dois jovens constitui, para o Doutor Glas, uma questão de vida ou morte. No entanto, o Doutor Glas, na sua inexperiência, não se apercebe da sua própria distância do sol. Não sabe que com a morte do clérigo, o amante de Helga rapidamente se desembaraçará desta para casar com outra, e que Helga acabará grávida, abandonada, sem nunca mais lhe dirigir palavra. O seu é um erro de cálculo que surge da inexperiência do amor, da distância que o leva a pensar o amor como uma questão de vida ou morte. "

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Polemicsin

Polemicsin, ou Shut Up (só para quem não tem mais nada para fazer), é o blogue da Raquel Ribeiro - e uma  lição para os bloguistas do 10º5. Parabéns, Raquel, aliás _When Angels Deserve to Die_, que publicou na quarta-feira, 23 de Janeiro, este poema sem título, in Aula de Geografia:


Uma manhã chuvosa acordava no seu olhar,
Longe do mundo a primeira gota
Brincou com uma suavidade salgada
A frágil pestana do seu olhar
Provando o sabor da gota que
Tão igual a coisa nenhuma
Era igual a tanta coisa.

Com inesperada tristeza, alegria e saudade
De quem só agora conhece o mundo,
A gota rolou com um novo rigor
E juntou-se aos seus companheiros
Na demanda por todos os novos sabores
Daquele novo mundo de amargura.

Eram assim as manhãs chuvosas do olhar
Que com amargurada tristeza
Procurava no pequeno coração
A renovada esperança
Que faria o sol brilhar de novo
Nas profundezas do seu olhar.


Ex-citação 5

«Na conhecida cidade italiana de M..., a Marquesa de O..., uma senhora viúva de excelente reputação, mãe de vários filhos bem educados, mandou publicar, em vários jornais, a seguinte notícia: que tinha engravidado, sem se dar conta; que era preciso que o pai da futura criança aparecesse e se identificasse; e que, por consideração para com a sua família, estaria disposta a casar com ele.»

B. Wilhelm Heinrich von Kleist, A Marquesa de O, Sintra: Colares Editora, p. 5.

(Quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008)


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Biblioteca online do conto

A revista Ficções tem disponível em linha uma biblioteca de contos clássicos e contemporâneos portugueses.

Ex-citação 4

«Ireneo começou por enumerar, em latim e em espanhol, os casos de memória prodigiosa registados pela Naturalis Historia: Ciro, rei dos persas, que conseguia chamar pelo nome todos os soldados dos seus exércitos; Mitrídates Eupator, que ministrava a justiça nos vinte e dois idiomas do seu império; Simónides, inventor da mnemotecnia; Metrodoro, que professava a arte de repetir com fidelidade o que ouvira uma única vez.»

Jorge Luís Borges, "Funes ou a memória", in Ficções, Lisboa: Editorial Teorema / Mediasat - Público, col. Mil Folhas, p. 96.

(Terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008)


Nabokov, Gogol

No blogue Bilbiotecário de Babel, José Mário Silva apresenta a biografia de Nicolai Gogol, cuja edição portuguesa foi lançada pela Assírio & Alvim, dizendo que "A maioria das biografias começam pelo princípio. Vladimir Nabokov, na sua abordagem à vida e obra de Nikolai Gogol, começa pelo fim. Isto é, pela crua descrição dos últimos momentos do escritor, que morreu aos 42 anos, meio enlouquecido e massacrado pelos médicos que lhe aplicaram horrendas sanguessugas no nariz (o herói de várias das suas histórias)."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Ex-citação 3

«Duas são as artes que podem guindar o homem às mais altas honrarias: uma, a de general; outra, a do bom orador. Esta conserva o esplendor da paz, a outra repele os perigos da guerra.»

Cícero, Defesa de Murena, 14.30, traduzido por Maria Helena da Rocha Pereira, in Romana. Antologia da Cultura Latina, Coimbra: Universidade de Coimbra, p. 23.

(Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008)